Dezembro de 2013
Capa:
Dr. João Gomes de Abreu de Lima, Ex-Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, num comício da campanha do General Soares Carneiro, nas eleições para a Presidência da República, em 1980
Fotografia do Arquivo da Casa do Outeiro - Ponte de Lima
Conteúdos
Associação das Casas Regionais em Lisboa (ACRL) - Que Futuro?
Irene Vieira Rua
Almoço Limiano de 2013
José Pereira Fernandes
ACRL - uma nova fase do regionalismo português
António Pais de Almeida
Novos Órgãos Autárquicos de Ponte de Lima
Câmara Municipal de Ponte de Lima na Vice-Presidência da Comunidade Intermunicipal do Minho Lima (CIM do Alto Minho)
Arte Sacra de Ponte de Lima
Retábulo da Capela de Santa Eulália - Refóios do Lima, do Século XVII
José Velho Dantas
Geografia Literária da Ribeira Lima
José Cândido de Oliveira Martins
Uma viagem pessoal pelo Caminho Português de Santiago
João Manuel Oliveira
João de Abreu de Lima
Um dos maiores Vultos da vida política e social de Ponte de Lima
Daniel Campelo
Testemunho sobre o Dr. João de Abreu de Lima
Mons. Dr. José Gomes de Sousa
Testemunho de uma vida, uma vida de testemunho
João Gomes d'Abreu
Apontamento sobre o Dr. João de Abreu de Lima
António de Almeida Santos
Assim fomos, assim somos
Francisco Maia de Abreu de Lima
João de Abreu de Lima
Um mestre, um senhor, um pai, um amigo sempre presente
Francisco de Calheiros - Conde de Calheiros
Acerca de uma meritória decisão do Dr. João de Abreu de Lima quando Presidente da CM de Ponte de Lima
João de Araújo Pimenta
Dr. João de Abreu de Lima
Breves notas sobre a minha actividade com o Presidente da CM de Ponte de Lima
Carlos Carvalho Dias
O Rio e a Ponte, A Ponte e o Burgo
Carlos Carvalho Dias
A Universidade Aberta em Ponte de Lima
Ana Catarina Lima
V Encontro Nacional de Turismo de Habitação e Ter
Clara Penha - Casa dos Sabores
Avenida 5 de Outubro, em Ponte de Lima, requalificada
Festival Internacional de Jardins 2013
Redemoinho de Sensações - o jardim mais votado
Dr. João Gomes de Abreu de Lima
Um dos maiores Vultos da vida política e social de Ponte de Lima
Dr. João de Abreu de Lima e Dr. António de Almeida Santos Fotografia do Arquivo da Casa do Outeiro, Ponte de Lima |
Pediram-me para escrever um depoimento sobre o Dr. João Gomes d’Abreu de Lima com enfoque nas vivências partilhadas enquanto Presidente de Câmara e Amigo pessoal desde há pelo menos 35 anos. É algo que faço com muita honra e agradeço a oportunidade deste testemunho profundamente sentido, louvando a iniciativa da Revista "LIMIANA" em fazer essa homenagem justa e muito merecida de um dos maiores Vultos da vida política e social de Ponte de Lima dos últimos tempos.
Começaria por escrever
aquilo que tive oportunidade de por várias ocasiões afirmar ao longo da minha
actividade política enquanto Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima -
de entre os vivos e da memória da minha geração, o Dr. João d’Abreu de Lima é o
cidadão Limiano a quem o concelho de Ponte de Lima mais deve. É essa dívida de
reconhecimento e de gratidão do colectivo do concelho que passarei a explicar
em curtas palavras.
Com a explosão social e
política associada ao 25 de Abril de 1974 deu-se um fenómeno, certamente
esperado, de busca de crescimento económico e de aumento enorme das novas
construções em todas as vilas e cidades portuguesas e mesmo numa boa parte das
aldeias rurais. Ora, esse fenómeno levou a situações muito diversificadas do
ponto de vista do planeamento urbano dos núcleos populacionais e mesmo do
espaço rural de muito baixa densidade populacional. Foi o desencadear de um
processo que haveria de trazer esperança e felicidade a muita gente e ao mesmo
tempo o caos e a destruição de identidade cultural a muitas vilas e cidades
portuguesas. Terras pitorescas e com enorme potencial para valorização do seu
rico Património perderam tudo ou quase tudo numa década de construções desordenadas
e de muito má qualidade que ainda hoje se podem ver, infelizmente, por todo o
país.
Foi o mau planeamento, ou a
falta deste na sua totalidade, que levou à perda irreversível de valores cada
vez mais raros e cada vez mais procurados por públicos que buscam a diferença e
os valores inscritos na herança cultural e arquitectónica das cidades, vilas e
aldeias ou nas gentes que as habitam, independentemente do país ou do sistema
político que o governa. Se esse ponto de viragem significou libertação social e
política, a falta de preparação da potencial classe dirigente significou morte
e destruição irreversível de muito do que era a riqueza e a identidade de um
país ou das diferentes civilizações que o compunham.
A sorte não foi igual para
todos e Ponte de Lima teve muito mais sorte por ter encontrado dirigentes com
uma visão atenta e avisada daquilo que poderiam ser trunfos do desenvolvimento
e a preservação de valores que a curto prazo haveriam de fazer toda a
diferença. Essa preocupação já era patente no Presidente da Comissão
Administrativa do pós 25 de Abril, o Dr. João Pimenta, e foi assim de forma
determinada quando nas primeiras eleições livres o povo elegeu para Presidente
da Câmara o Dr. João d’Abreu de Lima.
Como Presidente da Câmara,
o Dr. João d’Abreu de Lima haveria de iniciar um percurso de protecção e de
valorização do nosso Património que se desenvolveu globalmente no espírito e na
acção mobilizadora da comunidade e de muitas outras individualidades e técnicos
do exterior do concelho, ainda que muitas vezes incompreendidos e contestados
por expressões, normais, de falta de informação ou de visões curtas que sempre
caminharam ao lado do crescimento económico das cidades e dos povos.
A campanha "Ponte de
Lima uma Vila a proteger e a reabilitar", lançada nos anos setenta e
oitenta pelo então Presidente da Câmara, com o apoio de várias entidades
externas, seria o fermento de uma forma segura de encarar o desenvolvimento e o
futuro harmonioso e feliz de um concelho que soube preservar a herança cultural
recebida dos seus antepassados. Essa acção daria fruto e haveria de fazer
escola entre a população residente que dessa forma se organizava para que esse
caminho fosse irreversível, mesmo que os futuros dirigentes não tivessem o
mesmo grau de sensibilidade para esses aspectos marcantes do desenvolvimento e
da qualidade de vida das cidades. Aqueles que antes criticavam a opção
começaram a ser dos seus maiores defensores e hoje todos são
"mestres" e "especialistas" em defesa do Património, da Cultura
e do meio ambiente...
Aliás, essa forma de ver o
futuro teve continuidade e consolidou-se na presidência da Câmara que sucedeu
ao Dr. João d’Abreu de Lima, por intermédio de seu irmão o Dr. Francisco Maia
d’Abreu de Lima. Basta lembrar a polémica decisão de fechar a Ponte Romana e
Medieval ao trânsito automóvel nos anos oitenta e perguntar hoje à população se
gostaria de voltar a abrir a mesma aos automóveis, de forma permanente!...
Assim se traçou um destino
que haveria de colocar Ponte de Lima num plano de notoriedade nacional e
internacional e à custa disso abrir um caminho de sustentabilidade e de
sobrevivência dos valores que hoje fazem a maior riqueza do concelho,
económica, social e cultural.
A atenção que o Dr. João d’Abreu
de Lima dedicou a essa estratégia de desenvolvimento e a disponibilidade
permanente para ajudar mesmo fora da Presidência da Câmara, são razões mais que
suficientes para suportar a minha afirmação inicial de que, de entre os vivos,
é a Ele que Ponte de Lima mais deve.
Quando em 1993 fui
incumbido de preparar uma lista para candidatura aos órgãos autárquicos fui
convidar para cabeça de lista à Câmara Municipal o Dr. João d’Abreu de Lima,
dada a sua experiência e cotação entre a população do concelho, por tudo quanto
havia feito no passado recente. O Dr. João não aceitou, justificando com a sua
idade e com a necessidade de proceder a uma renovação dos dirigentes,
disponibilizando-se para ir em qualquer outro lugar que eu quisesse, caso eu
próprio decidisse encabeçar a dita lista. Dada a minha notória falta de
seneoridade aceitou assim ser o número dois da minha lista e com isso garantir
a transmissão de muito saber e de muita experiência que me permitiram realizar
as minhas funções com o sucesso que foi possível. Esta atitude diz tudo do seu
carácter, do espírito de colaboração e do amor que sempre manifestou à causa
pública e ao Concelho de Ponte de Lima.
A acção e a visão iniciadas
na era democrática pelo Dr. João deverão hoje, e cada vez mais, inspirar os
actuais e novos dirigentes a prosseguir no mesmo rumo, quiçá com mais arrojo e
cuidado, resistindo às tentações do belo inútil ou ao populismo das tendências
de cariz meramente estético, geradas pela dificuldade de conseguir ver mais
longe.
Obrigado ao cidadão, ao
Amigo, ao político e ao visionário por ter visto e ajudado a ver mais longe.
Daniel Campelo