Capa:
Igreja Matriz de Ponte de Lima, no início do século XX
Postal ilustrado da colecção de Amândio de Sousa Vieira
Conteúdos
Cultura e ingratidão
José Pereira Fernandes
Poema "Estertor"
António Manuel Couto Viana
Romaria Limiana de 2013
José Pereira Fernandes
"O Anunciador das Feiras Novas"
30 Anos ao serviço das Feiras Novas, da Cultura, do Turismo e das Artes Limianas
José Pereira Fernandes
Feiras Novas de 2013
O cartaz, o Terreiro do Paço e a festa
José Pereira Fernandes
O Adeus de Franclim
Cláudio Lima
Evocando o Juiz Conselheiro António Ferreira, Poeta
Cláudio Lima
Homenagem do Concelho de Ponte de Lima aos Heróis do Ultramar
A Igreja Matriz de Ponte de Lima
José Velho Dantas
Por terras de S. Julião de Moreira do Lima
A capela de S. Cipriano
Gracinda Dantas
Roteiro dos Amores de Pedro e Inês
Teresa Martins
"100 FUGAS" em Ponte de Lima
José Luís de Matos
Livro infantil "Teresa nas férias de verão..."
Cultura e ingratidão
O falecimento recente do escritor Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013),
uma das figuras mais relevantes da vida literária, cultural e cívica portuguesa
do século XX, veio pôr mais uma vez em evidência a ingratidão com que são
tratadas no nosso País muitas das grandes figuras da Cultura.
Numa clara alusão a Urbano Tavares Rodrigues, Maria Teresa Horta
considerou que “este é um Portugal ingrato, é um Portugal que não gosta de si
próprio, não gosta do melhor que tem”. Entre outras personalidades que se
pronunciaram no mesmo sentido, destaca-se ainda a opinião de José Jorge Letria,
Presidente da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores, para quem Urbano Tavares
Rodrigues "foi prejudicado por várias coisas, uma delas por ser demasiado
generoso num meio social e intelectual que não costuma reagir muito bem à
generosidade".
Estas
denúncias de ingratidão trazem-nos à memória António Manuel Couto Viana, nascido
também no ano de 1923, tal como Natália Correia, Eugénio de Andrade, Luís
Amaro, Eduardo Lourenço, João Maia, António Quadros, Orlando Vitorino, Mário
Cesariny e Fernando de Paços, o que levou o crítico e ensaísta João Bigotte
Chorão a dizer num dos seus estudos que esse foi “um ano de boa colheita”.
Apesar de
perfilharem diferentes ideais políticos, Urbano Tavares Rodrigues considerava
Couto Viana um poeta, ensaísta, dramaturgo, ficcionista e encenador dotado de
“uma vastíssima cultura” e de “múltiplos talentos”.
Mas, tal
como ele, também António Manuel Couto Viana foi vítima, mesmo depois da sua
morte, ocorrida em 8 de Junho de 2010, da ingratidão do Portugal que amou e a
quem deu a sua poesia, nomeadamente num inqualificável episódio protagonizado
pelos nossos representantes na Assembleia da República que, com sua
passividade, e contrariamente ao que havia sido proposto por doze deputados, impediram
que este órgão de soberania prestasse homenagem a esta grande figura da Cultura
Portuguesa e endereçasse votos de condolências à sua família, com fundamento em
factos que, a serem verdadeiros, se reportariam ao período em que o Poeta teria
cerca de 13 a 16 anos de idade!
É de
enaltecer, no entanto, a iniciativa do Presidente da República, Professor
Aníbal Cavaco Silva, que saudou o “escritor e homem de teatro que muito
enriqueceu a cultura portuguesa”, a quem prestou “sincera homenagem”, e da
então Ministra da Cultura e do Secretário de Estado da Cultura, que expressaram
a “maior consternação pelo falecimento do poeta, ensaísta e dramaturgo António
Manuel Couto Viana, cujo percurso profissional, erigido com profunda dedicação,
muito contribuiu para o desenvolvimento e promoção da cultura portuguesa,
particularmente das artes cénicas”.
Infelizmente,
a ingratidão do País para com as suas figuras da cultura e de outras áreas de
relevo grassa um pouco por toda a parte e já vem de longe, nomeadamente dos
tempos do grande Padre António Vieira que, com a sua sábia ironia, dizia: “Se
serviste a Pátria, e ela vos foi ingrata, vós fizeste o que devíeis, e ela o
que costuma”.
José Pereira Fernandes
António Manuel Couto Viana, em Ponte de Lima, em 21.04.2007 Fotografia de José Pereira Fernandes |
Estertor
Amei o meu Portugal:
Dei-lhe a minha poesia
E assisto ao seu final
Dia após dia.
Não há ninguém que lhe acuda
Com verdade combatente.
Só avisto quem o iluda
Só avisto quem lhe mente.
Pobre povo, onde, a raiz
Do que foi o “nobre povo”?
Não escutes quem te diz
Que está a erguer-te de novo.
Portugal, perdeste a estrada
Do império e do brasão.
Hoje, não és nada, nada…
Nem pra quem te estenda a mão.
Morreste em Évora Monte.
E a coroa ao abandono
Serviu para cingir a fronte
Da república no trono.
30.4.2010
António
Manuel Couto Viana
In:
António Manuel Couto Viana – Memorial do
Coração – Conversa a Quatro Mãos
Quetzal Editores
e Ricardo de Saavedra, 2012