quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Revista Limiana n.º 30


Dezembro de 2012
Capa:
Padre Manuel Gomes Dias, com a Medalha de Prata de Mérito Cultural atribuída pelo Município de Ponte de Lima, em 4 de Março de 1996
Fotografia de Amândio de Sousa Vieira


Conteúdos

O nosso Património Humano
José Pereira Fernandes

29.º Almoço Convívio de Limianos, em Lisboa
Irene Vieira Rua

Cecília Guimarães, Vítor de Sousa e a Casa do Concelho de Ponte de Lima
José Pereira Fernandes

A Tertúlia Rio de Prata e o Florilégio de Natal
Cláudio Lima

Arte Sacra de Ponte de Lima
Púlpito - Século XVIII - Igreja Paroquial de Santa Cruz do Lima
José Velho Dantas

Livro
Ponte de Lima - Sociedade, Economia e Instituições

Livro
Do Porco ao Sarrabulho
João Barros

O Limiano Rodrigo Abreu na minha memória
António Manuel Couto Viana

Padre Manuel Gomes Dias
Um limiano para sempre
António Matos Reis

Padre Manuel Gomes Dias
Testemunho - Honra ao Mérito
D. José Augusto Pedreira

Padre Manuel Gomes Dias
Pároco da freguesia da Labruja, de 1968 a 1973
Paulo António Alves Pereira

Padre Manuel Gomes Dias
35 anos ao serviço do povo de Nogueira
José Domingos Martins Gandra

Padre Manuel Gomes Dias
Referência Cultural de Ponte de Lima
Franclim Castro Sousa

Padre Manuel Gomes Dias
Um espírito superior
João Gomes d'Abreu

Padre Manuel Gomes Dias
Amigo de Ponte de Lima
Amândio de Sousa Vieira

Poema dedicado ao Padre Manuel Gomes Dias
Luís de Sousa Dantas

Un Gran Portugués: El Padre Manuel Dias
José Antonio de la Riera

Padre Manuel Gomes Dias
Un gentleman de la amistad
Antonio Martinez Coello

Freguesias de Ponte de Lima
Serdedelo - Das origens aos nossos dias
António Gonçalves Martins

Exposição
As Idades do Mar
Representação do Mar na pintura ocidental
Fundação Calouste Gulbenkian

8.º Festival Internacional de Ponte de Lima
"Jardim da Abundância" - o mais votado


O nosso Património Humano

      Como afirmou o Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima no 29.º Almoço Convívio de Limianos promovido em Lisboa pela Casa do Concelho de Ponte de Lima, no passado dia 4 de Novembro, o melhor que temos em Ponte de Lima são os Limianos, a quem se deve a construção, ao longo de oito séculos, do nosso património cultural, arquitectónico, rural e paisagístico.
A magnífica obra Figuras Limianas, superiormente coordenada por João Gomes d’Abreu, editada em 2008 pelo Município de Ponte de Lima, é a prova inequívoca dessa realidade, constituindo-se como uma verdadeira enciclopédia sobre as mais destacadas figuras limianas por nascimento ou por adopção que, desde o séc XII ao séc. XX, se notabilizaram em domínios de actividade como a ciência, o ensino, as artes, as letras, a magistratura, a diplomacia, o jornalismo, a religião, o comércio, a indústria e a política.
Porém, o Património Humano de Ponte de Lima está longe de se esgotar nas figuras seleccionadas para esta obra de excelência, como, aliás, é implicitamente reconhecido pelo seu coordenador, tanto mais que, por opção perfeitamente compreensível, foram apenas biografadas figuras que nos precederam.
Ao longo dos seis anos de publicação, que se completam precisamente com este número, a revista Limiana, editada pela Casa do Concelho de Ponte de Lima, tem tido igualmente a preocupação de divulgar figuras que, não só no passado, mas também no presente, se têm destacado na história de Ponte de Lima, contribuindo decisivamente para o engrandecimento da sua riqueza humana e intelectual.
Sem preocupação de exaustividade, por este espaço a não comportar, citam-se, entre outras, as seguintes figuras que foram objecto de estudo e divulgação nesta revista: Alfredo Cândido, Amândio de Sousa Vieira, Amândio Sousa Dantas, Américo Carneiro, António de Pádua, António Feijó, António Leones Dantas, António Manuel Couto Viana, António Matos Reis, Cardeal Saraiva, César Esteves, Cláudio Lima, D. Carlos Martins Pinheiro, D. Miguel Pereira Forjaz, Fátima Meireles, Fernando Freitas, Fernando Pimenta, Francisco Maia de Abreu de Lima, João de Sá Coutinho, João Marcos, José Cândido de Oliveira Martins, José de Sá Coutinho, José Manuel Araújo, José Maria Carneiro, José Rosa de Araújo, José Sousa Vieira, Júlio de Lemos, Luís de Sousa Dantas, Maria Júlia de Menezes e Vasconcelos, Miguel de Araújo, Rosário Marinho, Rúben Brandão, Tarquínio Vieira e Teófilo Carneiro.
Neste número, é evocado o Limiano Rodrigo Abreu, ainda pela caneta de Couto Viana, e prestado justo tributo a mais uma grande figura limiana - o Padre Manuel Gomes Dias -, nome cimeiro do Património Humano de Ponte de Lima.
É gratificante constatar o reconhecimento do representante máximo da autarquia limiana, no referido evento, de que a Casa do Concelho de Ponte de Lima tem dado um contributo fundamental para a promoção e manutenção da nossa identidade cultural, o que tem sido conseguido, em grande medida, através das páginas desta revista, com o mérito de todos quantos, número após número, vão assegurando a sua continuidade, onde se incluem, naturalmente, os nossos colaboradores e patrocinadores e, acima de tudo, os nossos leitores, que constituem a sua razão de ser.
José Pereira Fernandes



Padre Manuel Gomes Dias
Testemunho - Honra ao Mérito

Entrega de Medalhas de Mérito atribuídas pelo Município de Ponte de Lima ao Padre Manuel Gomes Dias e a outras personalidades e instituições, nomeadamente à Casa do Concelho de Ponte de Lima, em 4 de Março de 1996, Dia de Ponte de Lima
Fotografia do Arquivo de Amândio de Sousa Vieira 

      A Revista Limiana, atenta às personalidades que se distinguiram na promoção e defesa da cultura do Alto Minho, tomou a feliz iniciativa de trazer à memória dos seus interessados leitores a figura do Pe. Manuel Gomes Dias, cidadão de mérito do concelho de Ponte do Lima e nosso conterrâneo.
Estas minhas palavras não passam de um testemunho vivencial, adquirido durante os múltiplos contactos mantidos entre nós, que vêm dos tempos de estudantes, pois fomos contemporâneos nos estudos e partilhámos longos anos da nossa vida ativa ao serviço da Igreja e da sociedade. Não se baseia nas obras de que ele é autor, nem daquelas que ele, de alguma forma, influenciou. Deixo essa missão para outro comentador mais bem informado do que eu, sobre esse particular.
Natural da freguesia de Fornelos, concelho de Ponte de Lima (1933), o Pe. Manuel Gomes Dias frequentou os seminários da arquidiocese da Braga, em ordem à vida eclesiástica, cuja formação veio a concluir com a ordenação sacerdotal, a 15/08/1958. Um acontecimento, à primeira vista fortuito – a Exposição Iconográfica Mariana, realizada em Braga, no ano de 1954 –, estimulou o nosso homenageado a despertar em si uma capacidade até então por nós desconhecida: a paixão pela investigação e pela cultura.
Os principais organizadores da referida Exposição – Cóng. Aguiar Barreiros e Cóng. Luciano Afonso dos Santos – puderam contar com a colaboração voluntária e preciosa de dois alunos finalistas de Filosofia, um dos quais foi o Manuel Gomes Dias. Esse facto possibilitou-lhe, em primeiro lugar, um privilegiado contacto com estes excelentes mestres no campo da arqueologia, arte sacra e cultura; em segundo lugar, abriu caminho para futuros encontros com estes e outros estudiosos e mestres entendidos neste como noutros campos afins do saber, como arqueologia, etnografia, história da cultura, etc., entre os quais nos apraz citar: José Rosa de Araújo, Leandro Quintas Neves, Alberto Antunes de Abreu, entre outros.
Na sua companhia, calcorreou o Alto Minho, assistiu à identificação, classificação e catalogação das peças iconográficas mais significativas da arte religiosa, e tornou-se ele próprio uma autoridade científica na matéria. Apaixonado por este campo do saber, não procurou títulos académicos mas o estudo árduo e sagaz das fontes destes saberes: «O saber de experiência feito», como diria Camões. Desta forma, a vida sacerdotal do Pe. Manuel Gomes Dias foi enriquecida com uma intensa, rica e esclarecida ação cultural, patente nas publicações de que é autor e largamente reconhecida por quem toma contacto com as suas obras.
Senão vejamos: foi pároco de Sistelo, do concelho dos Arcos de Valdevez (3 anos), de Serdedelo e Boalhosa, no concelho de Ponte de Lima (7 anos), de Labruja, deste mesmo concelho (4 anos), de Nogueira, no concelho de Viana do Castelo (cerca de 35 anos), missão que ainda acumulou com Gondar, do concelho de Caminha durante um ano (1991).
Em toda a ação pastoral nestas comunidades esteve presente a sua preocupação pela defesa, classificação e restauro do património cultural, artístico e documental dessas áreas geográficas. As paróquias foram ao mesmo tempo campo de evangelização e de observação, investigação e recolha de dados culturais dos diversificados meios ambiente.
Desempenhou, paralelamente, outros cargos a nível diocesano e de âmbito local, através dos quais aprofundou os seus conhecimentos e assumiu a defesa destes mesmos valores culturais. Foi Membro da Comissão Diocesana de Arte e Cultura (1979 – 91), Diretor do Departamento do Museu Diocesano (1991 – 2008), passando a Membro Honorário quando dispensado por motivo de saúde (2008).
A nível local, foi professor em vários estabelecimentos de ensino, particular e oficial; presidiu ao Instituto Limiano – Museu dos Terceiros, na vila de Ponte de Lima; interveio em vários municípios, sobretudo no de Ponte de Lima e na região do Alto Minho em geral, onde prestou relevantes serviços culturais, sobretudo no sector da investigação arqueológica, em que demonstrou ser, ao mesmo tempo, excelente discípulo e companheiro dos mestres atrás citados. Assim se lhe referiu um presidente de autarquia: «Por sua própria iniciativa, incentivou a defesa de questões patrimoniais e culturais que, sem esse precioso contributo, estariam hoje votadas a total esquecimento».
No seu percurso de antropólogo, etnólogo, arqueólogo, professor e pároco, deu um notório contributo para a História da Cultura popular da nossa Terra. Percorreu montes e vales, na ânsia de localizar, identificar e inventariar sítios e peças arqueológicas. Desta longa, árdua e incessante pesquisa, em parceria nomeadamente com José Rosa de Araújo, viria a nascer o primeiro levantamento arqueológico do concelho de Ponte de Lima.
Mostrou especial sensibilidade para com o património arquitetónico e arqueológico da nossa região, contribuindo com o seu saber e influência para a divulgação e preservação desse mesmo património. Sempre discreto no seu modo de agir – quase sem se dar por isso – montou exposições, escreveu e colaborou em catálogos, divulgou a arte, incentivou estudos e teses, apoiou todos os que a ele recorreram. Neste campo, o município de Ponte de Lima foi o mais privilegiado. Basta recordar as inúmeras exposições realizadas, os Cortejos Históricos das Feiras Novas e o seu primeiro Catálogo, a sua investigação em arte sacra, em que se afirmou exímio datador de peças iconográficas religiosas. Em colaboração com outros cidadãos locais, foi relevante o contributo dado na dinamização do que é hoje conhecido como o Museu dos Terceiros, em Ponte de Lima, incentivando e dinamizando o seu fundador, D. Carlos Martins Pinheiro.
Foi com toda a justiça que a autarquia local lhe atribuiu a Medalha Municipal de Mérito Cultural.
Dos seus escritos, dispersos por várias publicações, apraz-nos apenas relevar o importante trabalho de equipa sobre S. Tiago nas Imagens e Caminhos do Alto Minho, e ainda, Lendas e Tradições do Caminho de Ponte do Lima a Valença.
Com este testemunho, pretendo exaltar e honrar o mérito do cidadão e Padre Manuel Gomes Dias, e associar-me à justa homenagem que lhe é prestada pela Revista Limiana e seus colaboradores.

D. José Augusto Pedreira
Bispo da Diocese de Viana do Castelo, de 08.12.1997 a 11.06.2010


D. José Augusto Pedreira e Padre Manuel Gomes Dias, em 15 de Agosto de 2008, dia da celebração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais, na freguesia de Nogueira, concelho de Viana do Castelo
Fotografia de J. D. Martins Gandra