Dezembro de 2012
Capa:
Padre Manuel Gomes Dias, com a Medalha de Prata de Mérito Cultural atribuída pelo Município de Ponte de Lima, em 4 de Março de 1996
Fotografia de Amândio de Sousa Vieira
Conteúdos
O nosso Património Humano
José Pereira Fernandes
29.º Almoço Convívio de Limianos, em Lisboa
Irene Vieira Rua
Cecília Guimarães, Vítor de Sousa e a Casa do Concelho de Ponte de Lima
José Pereira Fernandes
A Tertúlia Rio de Prata e o Florilégio de Natal
Cláudio Lima
Arte Sacra de Ponte de Lima
Púlpito - Século XVIII - Igreja Paroquial de Santa Cruz do Lima
José Velho Dantas
Livro
Ponte de Lima - Sociedade, Economia e Instituições
Livro
Do Porco ao Sarrabulho
João Barros
O Limiano Rodrigo Abreu na minha memória
António Manuel Couto Viana
Padre Manuel Gomes Dias
Um limiano para sempre
António Matos Reis
Padre Manuel Gomes Dias
Testemunho - Honra ao Mérito
D. José Augusto Pedreira
Padre Manuel Gomes Dias
Pároco da freguesia da Labruja, de 1968 a 1973
Paulo António Alves Pereira
Padre Manuel Gomes Dias
35 anos ao serviço do povo de Nogueira
José Domingos Martins Gandra
Padre Manuel Gomes Dias
Referência Cultural de Ponte de Lima
Franclim Castro Sousa
Padre Manuel Gomes Dias
Um espírito superior
João Gomes d'Abreu
Padre Manuel Gomes Dias
Amigo de Ponte de Lima
Amândio de Sousa Vieira
Poema dedicado ao Padre Manuel Gomes Dias
Luís de Sousa Dantas
Un Gran Portugués: El Padre Manuel Dias
José Antonio de la Riera
Padre Manuel Gomes Dias
Un gentleman de la amistad
Antonio Martinez Coello
Freguesias de Ponte de Lima
Serdedelo - Das origens aos nossos dias
António Gonçalves Martins
Exposição
As Idades do Mar
Representação do Mar na pintura ocidental
Fundação Calouste Gulbenkian
8.º Festival Internacional de Ponte de Lima
"Jardim da Abundância" - o mais votado
O nosso Património Humano
A magnífica obra Figuras Limianas, superiormente
coordenada por João Gomes d’Abreu, editada em 2008 pelo Município de Ponte de
Lima, é a prova inequívoca dessa realidade, constituindo-se como uma verdadeira
enciclopédia sobre as mais destacadas figuras limianas por nascimento ou por adopção que, desde o séc XII ao séc. XX,
se notabilizaram em domínios de actividade como a ciência, o ensino, as artes,
as letras, a magistratura, a diplomacia, o jornalismo, a religião, o comércio,
a indústria e a política.
Porém, o Património Humano
de Ponte de Lima está longe de se esgotar nas figuras seleccionadas para esta
obra de excelência, como, aliás, é implicitamente reconhecido pelo seu
coordenador, tanto mais que, por opção perfeitamente compreensível, foram
apenas biografadas figuras que nos precederam.
Ao longo dos seis anos de
publicação, que se completam precisamente com este número, a revista Limiana, editada pela Casa do Concelho
de Ponte de Lima, tem tido igualmente a preocupação de divulgar figuras que, não
só no passado, mas também no presente, se têm destacado na história de Ponte de
Lima, contribuindo decisivamente para o engrandecimento da sua riqueza humana e
intelectual.
Sem preocupação de
exaustividade, por este espaço a não comportar, citam-se, entre outras, as
seguintes figuras que foram objecto de estudo e divulgação nesta revista: Alfredo
Cândido, Amândio de Sousa Vieira, Amândio Sousa Dantas, Américo Carneiro,
António de Pádua, António Feijó, António Leones Dantas, António Manuel Couto
Viana, António Matos Reis, Cardeal Saraiva, César Esteves, Cláudio Lima, D.
Carlos Martins Pinheiro, D. Miguel Pereira Forjaz, Fátima Meireles, Fernando
Freitas, Fernando Pimenta, Francisco Maia de Abreu de Lima, João de Sá
Coutinho, João Marcos, José Cândido de Oliveira Martins, José de Sá Coutinho,
José Manuel Araújo, José Maria Carneiro, José Rosa de Araújo, José Sousa
Vieira, Júlio de Lemos, Luís de Sousa Dantas, Maria Júlia de Menezes e Vasconcelos,
Miguel de Araújo, Rosário Marinho, Rúben Brandão, Tarquínio Vieira e Teófilo
Carneiro.
Neste número, é evocado o Limiano
Rodrigo Abreu, ainda pela caneta de Couto Viana, e prestado justo tributo a
mais uma grande figura limiana - o Padre Manuel Gomes Dias -, nome cimeiro do
Património Humano de Ponte de Lima.
É gratificante constatar o
reconhecimento do representante máximo da autarquia limiana, no referido
evento, de que a Casa do Concelho de Ponte de Lima tem dado um contributo
fundamental para a promoção e manutenção da nossa identidade cultural, o que
tem sido conseguido, em grande medida, através das páginas desta revista, com o
mérito de todos quantos, número após número, vão assegurando a sua
continuidade, onde se incluem, naturalmente, os nossos colaboradores e
patrocinadores e, acima de tudo, os nossos leitores, que constituem a sua razão
de ser.
José Pereira Fernandes
Padre Manuel Gomes Dias
Testemunho - Honra ao Mérito
A Revista Limiana, atenta às personalidades que se distinguiram na promoção e defesa da cultura do Alto Minho, tomou a feliz iniciativa de trazer à memória dos seus interessados leitores a figura do Pe. Manuel Gomes Dias, cidadão de mérito do concelho de Ponte do Lima e nosso conterrâneo.
Estas minhas
palavras não passam de um testemunho vivencial, adquirido durante os múltiplos
contactos mantidos entre nós, que vêm dos tempos de estudantes, pois fomos
contemporâneos nos estudos e partilhámos longos anos da nossa vida ativa ao
serviço da Igreja e da sociedade. Não se baseia nas obras de que ele é autor,
nem daquelas que ele, de alguma forma, influenciou. Deixo essa missão para outro
comentador mais bem informado do que eu, sobre esse particular.
Natural da
freguesia de Fornelos, concelho de Ponte de Lima (1933), o Pe. Manuel Gomes
Dias frequentou os seminários da arquidiocese da Braga, em ordem à vida eclesiástica,
cuja formação veio a concluir com a ordenação sacerdotal, a 15/08/1958. Um
acontecimento, à primeira vista fortuito – a Exposição Iconográfica Mariana,
realizada em Braga, no ano de 1954 –, estimulou o nosso homenageado a despertar
em si uma capacidade até então por nós desconhecida: a paixão pela investigação
e pela cultura.
Os principais organizadores
da referida Exposição – Cóng. Aguiar Barreiros e Cóng. Luciano Afonso dos
Santos – puderam contar com a colaboração voluntária e preciosa de dois alunos
finalistas de Filosofia, um dos quais foi o Manuel Gomes Dias. Esse facto
possibilitou-lhe, em primeiro lugar, um privilegiado contacto com estes excelentes
mestres no campo da arqueologia, arte sacra e cultura; em segundo lugar, abriu
caminho para futuros encontros com estes e outros estudiosos e mestres
entendidos neste como noutros campos afins do saber, como arqueologia, etnografia,
história da cultura, etc., entre os quais nos apraz citar: José Rosa de Araújo,
Leandro Quintas Neves, Alberto Antunes de Abreu, entre outros.
Na sua
companhia, calcorreou o Alto Minho, assistiu à identificação, classificação e
catalogação das peças iconográficas mais significativas da arte religiosa, e
tornou-se ele próprio uma autoridade científica na matéria. Apaixonado por este
campo do saber, não procurou títulos académicos mas o estudo árduo e sagaz das
fontes destes saberes: «O saber de experiência feito», como diria Camões. Desta
forma, a vida sacerdotal do Pe. Manuel Gomes Dias foi enriquecida com uma
intensa, rica e esclarecida ação cultural, patente nas publicações de que é
autor e largamente reconhecida por quem toma contacto com as suas obras.
Senão vejamos:
foi pároco de Sistelo, do concelho dos Arcos de Valdevez (3 anos), de Serdedelo
e Boalhosa, no concelho de Ponte de Lima (7 anos), de Labruja, deste mesmo
concelho (4 anos), de Nogueira, no concelho de Viana do Castelo (cerca de 35
anos), missão que ainda acumulou com Gondar, do concelho de Caminha durante um
ano (1991).
Em toda a ação
pastoral nestas comunidades esteve presente a sua preocupação pela defesa,
classificação e restauro do património cultural, artístico e documental dessas
áreas geográficas. As paróquias foram ao mesmo tempo campo de evangelização e
de observação, investigação e recolha de dados culturais dos diversificados
meios ambiente.
Desempenhou, paralelamente,
outros cargos a nível diocesano e de âmbito local, através dos quais aprofundou
os seus conhecimentos e assumiu a defesa destes mesmos valores culturais. Foi Membro
da Comissão Diocesana de Arte e Cultura (1979 – 91), Diretor do Departamento do
Museu Diocesano (1991 – 2008), passando a Membro Honorário quando dispensado
por motivo de saúde (2008).
A nível local, foi
professor em vários estabelecimentos de ensino, particular e oficial; presidiu
ao Instituto Limiano – Museu dos Terceiros, na vila de Ponte de Lima; interveio
em vários municípios, sobretudo no de Ponte de Lima e na região do Alto Minho em
geral, onde prestou relevantes serviços culturais, sobretudo no sector da
investigação arqueológica, em que demonstrou ser, ao mesmo tempo, excelente
discípulo e companheiro dos mestres atrás citados. Assim se lhe referiu um
presidente de autarquia: «Por sua própria iniciativa, incentivou a defesa de
questões patrimoniais e culturais que, sem esse precioso contributo, estariam
hoje votadas a total esquecimento».
No seu percurso
de antropólogo, etnólogo, arqueólogo, professor e pároco, deu um notório
contributo para a História da Cultura popular da nossa Terra. Percorreu montes
e vales, na ânsia de localizar, identificar e inventariar sítios e peças
arqueológicas. Desta longa, árdua e incessante pesquisa, em parceria nomeadamente
com José Rosa de Araújo, viria a nascer o primeiro levantamento arqueológico do
concelho de Ponte de Lima.
Mostrou
especial sensibilidade para com o património arquitetónico e arqueológico da
nossa região, contribuindo com o seu saber e influência para a divulgação e
preservação desse mesmo património. Sempre discreto no seu modo de agir – quase
sem se dar por isso – montou exposições, escreveu e colaborou em catálogos,
divulgou a arte, incentivou estudos e teses, apoiou todos os que a ele
recorreram. Neste campo, o município de Ponte de Lima foi o mais privilegiado.
Basta recordar as inúmeras exposições realizadas, os Cortejos Históricos das Feiras
Novas e o seu primeiro Catálogo, a sua investigação em arte sacra, em que se
afirmou exímio datador de peças iconográficas religiosas. Em colaboração com
outros cidadãos locais, foi relevante o contributo dado na dinamização do que é
hoje conhecido como o Museu dos Terceiros, em Ponte de Lima, incentivando e
dinamizando o seu fundador, D. Carlos Martins Pinheiro.
Foi com toda a
justiça que a autarquia local lhe atribuiu a Medalha Municipal de Mérito
Cultural.
Dos seus
escritos, dispersos por várias publicações, apraz-nos apenas relevar o
importante trabalho de equipa sobre S.
Tiago nas Imagens e Caminhos do Alto Minho, e ainda, Lendas e Tradições do Caminho de Ponte do Lima a Valença.
Com este
testemunho, pretendo exaltar e honrar o mérito do cidadão e Padre Manuel Gomes
Dias, e associar-me à justa homenagem que lhe é prestada pela Revista Limiana e
seus colaboradores.
D. José Augusto Pedreira
Bispo da Diocese de Viana do Castelo, de 08.12.1997 a 11.06.2010