quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Revista Limiana n.º 29


Outubro de 2012
Capa:
Embaixador Dr. João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior - 4.º Conde d'Aurora


Conteúdos

Folclore: a quantas andamos?
Irene Vieira Rua

O Folclore e eu
Maria Manuela Couto Viana

Romaria Limiana de 2012

Feiras Novas de 2012

Baptismo Internacional do Grupo da Portela
Rui Quintela

CIL - Centro de Informação do Lima

Arte Sacra de Ponte de Lima
O Baptismo de Jesus - Pintura sobre Madeira
Igreja Paroquial de Santa Maria de Refóios
José Velho Dantas

Página Literária
D. Miguel Pereira Forjaz
Um limiano ilustre na Regência de Portugal
José Cândido de Oliveira Martins

Embaixador Dr. João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior - Conde d'Aurora
Francisco de Abreu de Lima

Saudade de um Homem Bom
Manuel Poppe

Embaixador João de Sá Coutinho
Memória de um Grande Senhor
Daniel Campelo

Conde d'Aurora
Francisco de Calheiros - Conde de Calheiros

O Embaixador João de Sá Coutinho, Conde d'Aurora
Paulo Portas
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros

João Aurora
José Cutileiro

Memórias de um Pai
Rosário Sá Coutinho

Embaixador João de Sá Coutinho
37 Anos ao serviço da diplomacia portuguesa

Por terras de S. Julião de Moreira do Lima: a capela
Gracinda Dantas

Clube Náutico de Ponte de Lima
Uma Escola de Campeões
Carlos Cunha de Sousa

Fernando Pimenta
Um grande Campeão Limiano
Carlos Cunha de Sousa

As "Casas" dos Bombeiros de Ponte de Lima
João Carlos Brandão Gonçalves

Freguesias de Ponte de Lima
Feitosa - uma freguesia em profundo crescimento
Ana Cláudia Martins



Embaixador João de Sá Coutinho
Memória de um Grande Senhor


Embaixador João de Sá Coutinho e Papa João Paulo II
Apresentação das credenciais de Embaixador de Portugal junto da Santa Sé

No período em que exerci funções autárquicas em Ponte de Lima tive o privilégio de conviver com o Embaixador João de Sá Coutinho por muitas vezes e por razões muito diversificadas. Em todas as suas facetas pude constatar tratar-se de uma personalidade rara em Ponte de Lima e no país. Diria mesmo que foi do melhor que encontrei na minha vida política, no que respeita à elegância do trato e à correcção das relações pessoais e institucionais que, por força do meu cargo, tive de desenvolver continuadamente com o Senhor Conde d’Aurora.
Ainda na qualidade de Diplomata, pediu-me uma audiência para oferecer os seus serviços em prol do meu projecto para Ponte de Lima. Nessa condição, fez tudo o que o Município lhe pediu e sei que assim procedeu para muitas pessoas e instituições limianas. Quando regressado a Ponte de Lima, em consequência do término da sua brilhante Carreira Diplomática, pediu nova audiência ao Presidente da Câmara para reafirmar a sua total disponibilidade em "colocar os seus serviços ao dispor do Município", pedindo que lhe fossem dadas instruções quanto a possíveis missões de interesse do concelho, já que agora iria dispor de mais tempo. Confesso que estes dois momentos foram para mim de um significado profundo e raras vezes igualados por outras personalidades.
Lembro perfeitamente o momento em que, na sua casa, ao receber o Presidente do Governo da Junta da Galiza, D. Manuel Fraga Iribarne, meteu as mãos ao bolso e, em nome da hospitalidade limiana e da sua família, ofereceu-lhe a chave da Casa de Nossa Senhora da Aurora, como sinal de uma aliança desejada do Vale do Lima para com a Galiza, a qual, por esse tempo, vivia um período áureo de relações de cooperação com o Norte de Portugal. Como Embaixador respeitado e conhecido em Espanha favorecia, assim, a colocação das atenções sobre Ponte de Lima e do trabalho que à época estava a ser realizado, nomeadamente no que concerne ao turismo de habitação e ao turismo no espaço rural.
O Conde d'Aurora tinha o génio de um diplomata culto e experiente, para além de uma característica notável que o diferenciava, sobremaneira, da generalidade da aristocracia – rompia os momentos pesados do protocolo com um humor único e com gestos reconfortantes de boa disposição, nem que fosse com um levantar brusco de mesa com o simples pretexto de fumar um cigarro. Dessa forma, resgatava com frequência alguém que não se sentisse integrado nos ambientes fastidiosos das recepções protocolares ou de cerimónia. Com ele, à mesa ou no sofá, havia alegria e boa disposição, quebrando o gelo em muitas reuniões de ambiente pesado e transformando a perspectiva de outras com tédio anunciado. O humor das suas palavras fazia o momento mais ligeiro e apetecível e, com frequência, carregavam uma forte mensagem, incluindo de sátira ou de crítica objectiva sobre os temas da conversa ou debate.
Com requinte e pontaria certeira fazia e desfazia momentos, muitas vezes com um simples e sentido sorriso, que era, sem dúvida, uma das suas maiores especialidades.
Na sua dimensão social não posso esquecer a colaboração pronta que sempre evidenciou, mesmo nas ocasiões de alguma contrariedade à sua preferência, de que é exemplo o momento em que o Município precisou de usar os seus terrenos por utilidade pública municipal. Negociar os bens materiais não era a sua especialidade e evidenciava mesmo alguma relutância em se ocupar com esses processos, para ele desconfortáveis.
Recebendo em sua casa Presidentes da República, governantes e diplomatas, nacionais ou estrangeiros, em momentos de informalidade, nunca perdia a oportunidade de promover os valores de Ponte de Lima e da região. Foi, até ao fim da sua vida, um verdadeiro embaixador da sua terra, da cultura e das suas gentes (tal como seu Pai o havia feito). Esta forma rica e autêntica de receber repetia-se na largada da Vaca das Cordas, nos jantares ou recepções para que muitas vezes me convidou ou nos momentos protocolares inerentes às suas funções de Estado, que tão exemplarmente exerceu a bem de Portugal.

Poderia em linguagem simples e bem perceptível pela maioria do comum dos cidadãos resumir tudo numa curta frase: João de Sá Coutinho, o Conde d'Aurora, foi em toda a sua dimensão um verdadeiro SENHOR.
Daniel Campelo


Embaixador João de Sá Coutinho
37 Anos ao serviço da diplomacia portuguesa

Embaixador João de Sá Coutinho e Don Juan Carlos I, Rei de Espanha

João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior, 4.º Conde d’Aurora, nasceu em 8 de Outubro de 1929, em Ponte de Lima.
Concluída a licenciatura em Direito, na Universidade de Coimbra, ingressou na carreira diplomática em 29 de Junho de 1956, depois de aprovado no concurso de admissão aos lugares de adido de legação, aberto pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros em Outubro de 1955.
De acordo com as normas de progressão desta carreira, foi sucessivamente promovido a:

- Cônsul de 3.ª Classe, em 20 de Novembro de 1958;
- Cônsul de 2.ª Classe, em 23 de Março de 1960;
- Cônsul de 1.ª Classe, em 21 de Dezembro de 1964;
- Conselheiro de Embaixada, em 11 de Setembro de 1973;
- Ministro Plenipotenciário de 2.ª Classe, em 7 de Dezembro de 1974;
- Ministro Plenipotenciário de 1.ª Classe, em 18 de Fevereiro de 1976;
- Embaixador, em 4 de Setembro de 1981.

Ao longo da sua vida profissional, iniciada em 29 de Junho de 1956, começou por desempenhar funções de adido de embaixada e de cônsul no Ministério dos Negócios Estrangeiros, até 24 de Julho de 1960, tendo exercido posteriormente os seguintes cargos:

- Cônsul em Belo Horizonte, Brasil, de 25 de Julho de 1960 a 13 de Maio de 1965;
- Secretário da Embaixada de Portugal em Ottawa, Canadá, de 14 de Maio de 1965 a 30 de Abril de 1968;
- Secretário da Embaixada de Portugal em Roma, Itália, de 1 de Maio de 1968 a 18 de Junho de 1972,
- Cônsul, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, de 19 de Junho de 1972 a 10 de Setembro de 1973;
- Conselheiro, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, de 11 de Setembro de 1973 a 25 de Outubro de 1973;
- Conselheiro da Embaixada de Portugal em Londres, Grã-Bretanha, de 26 de Outubro de 1973 a 18 de Novembro de 1974;
- Embaixador de Portugal na Guiné-Bissau (com credenciais de embaixador), de 19 de Novembro de 1974 a 26 de Fevereiro de 1977;
- Em acumulação com o cargo de Embaixador na Guiné-Bissau, foi acreditado como embaixador não residente no Senegal, em 20 de Junho de 1975, em Cabo Verde, em 18 de Julho de 1975, na Mauritânia, em 27 de Janeiro de 1976, e na República Popular do Congo, em 1976.
- Embaixador de Portugal em Luanda, Angola (com credenciais de embaixador), de 27 de Fevereiro de 1977 a 23 de Abril de 1980;
- Embaixador de Portugal em Madrid, Espanha (com credenciais de embaixador), de 24 de Abril de 1980 a 7 de Março de 1984;
- Secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, de 8 de Março de 1984 a 8 de Abril de 1986;
- Embaixador, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, de 9 de Abril de 1986 a 12 de Maio de 1986;
- Embaixador de Portugal junto da Santa Sé, de 13 de Maio de 1986 a 26 de Janeiro de 1993;
- Embaixador junto da Ordem Soberana e Militar de Malta, desde 16 de Junho de 1986, em acumulação com o cargo de Embaixador junto da Santa Sé.
- Embaixador, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, de 27 de Janeiro de 1993 a 7 de Julho de 1993.

Depois de uma longa carreira de 37 anos ao serviço da diplomacia portuguesa, em que desempenhou cargos de elevada responsabilidade tanto a nível nacional como internacional, o Embaixador João de Sá Coutinho requereu a passagem à aposentação, com 63 anos de idade.
Pelo Decreto do Presidente da República n.º 19/2001, de 23 de Março, foi ainda nomeado, pelo então Presidente da República Dr. Jorge Sampaio, Chanceler das Ordens Honoríficas Nacionais – Ordem do Infante D. Henrique e Ordem da Liberdade.
Como reconhecimento do mérito e das virtudes evidenciadas ao longo da sua carreira de diplomata, o Embaixador João de Sá Coutinho foi agraciado com as seguintes condecorações:

- Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo, de Portugal;
- Grã-cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, de Portugal;
- Cavaleiro de Honra e Devoção da Ordem Soberana e Militar de Malta;
- Grã-cruz da Ordem do Mérito, da Áustria;
- Grã-cruz da Ordem Real de Dannebrog, da Dinamarca;
- Grã-cruz da Ordem do Mérito Civil, da Espanha;
- Grã-cruz da Ordem do Império Britânico, da Grã-Bretanha;
- Grã-cruz da Ordem da Coroa de Carvalho, do Luxemburgo;
- Grã-cruz da Ordem “pró Mérito Militensi” da Ordem Soberana e Militar de Malta;
- Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul, do Brasil;
- Oficial da Ordem do Mérito, da Itália;
- Grã-cruz da Ordem do Mérito, de Portugal;
- Grã-cruz e Cavaleiro da Ordem de Piani, da Santa Sé;
- Grã-cruz da Ordem de Pio IX;
- Grã-cruz da Ordem de São João de Jerusalém e Rodes, de Malta;
- Grã-cruz da Ordem de Leopoldo II, da Bélgica.

Faleceu em Ponte de Lima, na sua Casa de Nossa Senhora d’Aurora, em 25 de Maio de 2012, com 82 anos de idade.

A título póstumo, foi ainda atribuída pelo Município de Ponte de Lima ao Embaixador João de Sá Coutinho, 4.º Conde d'Aurora, a Medalha de Mérito Social, entregue a sua filha Rosário de Sá Coutinho em 4 de Março de 2014, Dia de Ponte de Lima.