Outubro de 2012
Capa:
Embaixador Dr. João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior - 4.º Conde d'Aurora
Conteúdos
Folclore: a quantas andamos?
Irene Vieira Rua
O Folclore e eu
Maria Manuela Couto Viana
Romaria Limiana de 2012
Feiras Novas de 2012
Baptismo Internacional do Grupo da Portela
Rui Quintela
CIL - Centro de Informação do Lima
Arte Sacra de Ponte de Lima
O Baptismo de Jesus - Pintura sobre Madeira
Igreja Paroquial de Santa Maria de Refóios
José Velho Dantas
Página Literária
D. Miguel Pereira Forjaz
Um limiano ilustre na Regência de Portugal
José Cândido de Oliveira Martins
Embaixador Dr. João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior - Conde d'Aurora
Francisco de Abreu de Lima
Saudade de um Homem Bom
Manuel Poppe
Embaixador João de Sá Coutinho
Memória de um Grande Senhor
Daniel Campelo
Conde d'Aurora
Francisco de Calheiros - Conde de Calheiros
O Embaixador João de Sá Coutinho, Conde d'Aurora
Paulo Portas
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
João Aurora
José Cutileiro
Memórias de um Pai
Rosário Sá Coutinho
Embaixador João de Sá Coutinho
37 Anos ao serviço da diplomacia portuguesa
Por terras de S. Julião de Moreira do Lima: a capela
Gracinda Dantas
Clube Náutico de Ponte de Lima
Uma Escola de Campeões
Carlos Cunha de Sousa
Fernando Pimenta
Um grande Campeão Limiano
Carlos Cunha de Sousa
As "Casas" dos Bombeiros de Ponte de Lima
João Carlos Brandão Gonçalves
Freguesias de Ponte de Lima
Feitosa - uma freguesia em profundo crescimento
Ana Cláudia Martins
Embaixador João de Sá Coutinho
Memória de um Grande Senhor
Embaixador João de Sá Coutinho e Papa João Paulo II Apresentação das credenciais de Embaixador de Portugal junto da Santa Sé |
No período em que exerci
funções autárquicas em Ponte de Lima tive o privilégio de conviver com o
Embaixador João de Sá Coutinho por muitas vezes e por razões muito
diversificadas. Em todas as suas facetas pude constatar tratar-se de uma
personalidade rara em Ponte de Lima e no país. Diria mesmo que foi do melhor
que encontrei na minha vida política, no que respeita à elegância do trato e à
correcção das relações pessoais e institucionais que, por força do meu cargo,
tive de desenvolver continuadamente com o Senhor Conde d’Aurora.
Ainda na qualidade de
Diplomata, pediu-me uma audiência para oferecer os seus serviços em prol do meu
projecto para Ponte de Lima. Nessa condição, fez tudo o que o Município lhe
pediu e sei que assim procedeu para muitas pessoas e instituições limianas.
Quando regressado a Ponte de Lima, em consequência do término da sua brilhante
Carreira Diplomática, pediu nova audiência ao Presidente da Câmara para reafirmar
a sua total disponibilidade em "colocar os seus serviços ao dispor do
Município", pedindo que lhe fossem dadas instruções quanto a possíveis
missões de interesse do concelho, já que agora iria dispor de mais tempo.
Confesso que estes dois momentos foram para mim de um significado profundo e
raras vezes igualados por outras personalidades.
Lembro perfeitamente o
momento em que, na sua casa, ao receber o Presidente do Governo da Junta da
Galiza, D. Manuel Fraga Iribarne, meteu as mãos ao bolso e, em nome da
hospitalidade limiana e da sua família, ofereceu-lhe a chave da Casa de Nossa
Senhora da Aurora, como sinal de uma aliança desejada do Vale do Lima para com
a Galiza, a qual, por esse tempo, vivia um período áureo de relações de
cooperação com o Norte de Portugal. Como Embaixador respeitado e conhecido em
Espanha favorecia, assim, a colocação das atenções sobre Ponte de Lima e do
trabalho que à época estava a ser realizado, nomeadamente no que concerne ao
turismo de habitação e ao turismo no espaço rural.
O Conde d'Aurora tinha o
génio de um diplomata culto e experiente, para além de uma característica
notável que o diferenciava, sobremaneira, da generalidade da aristocracia –
rompia os momentos pesados do protocolo com um humor único e com gestos reconfortantes
de boa disposição, nem que fosse com um levantar brusco de mesa com o simples
pretexto de fumar um cigarro. Dessa forma, resgatava com frequência alguém que
não se sentisse integrado nos ambientes fastidiosos das recepções protocolares
ou de cerimónia. Com ele, à mesa ou no sofá, havia alegria e boa disposição,
quebrando o gelo em muitas reuniões de ambiente pesado e transformando a
perspectiva de outras com tédio anunciado. O humor das suas palavras fazia o
momento mais ligeiro e apetecível e, com frequência, carregavam uma forte
mensagem, incluindo de sátira ou de crítica objectiva sobre os temas da
conversa ou debate.
Com requinte e pontaria
certeira fazia e desfazia momentos, muitas vezes com um simples e sentido
sorriso, que era, sem dúvida, uma das suas maiores especialidades.
Na sua dimensão social não
posso esquecer a colaboração pronta que sempre evidenciou, mesmo nas ocasiões
de alguma contrariedade à sua preferência, de que é exemplo o momento em que o
Município precisou de usar os seus terrenos por utilidade pública municipal.
Negociar os bens materiais não era a sua especialidade e evidenciava mesmo
alguma relutância em se ocupar com esses processos, para ele desconfortáveis.
Recebendo em sua casa
Presidentes da República, governantes e diplomatas, nacionais ou estrangeiros,
em momentos de informalidade, nunca perdia a oportunidade de promover os
valores de Ponte de Lima e da região. Foi, até ao fim da sua vida, um
verdadeiro embaixador da sua terra, da cultura e das suas gentes (tal como seu
Pai o havia feito). Esta forma rica e autêntica de receber repetia-se na
largada da Vaca das Cordas, nos jantares ou recepções para que muitas vezes me
convidou ou nos momentos protocolares inerentes às suas funções de Estado, que
tão exemplarmente exerceu a bem de Portugal.
Poderia em linguagem
simples e bem perceptível pela maioria do comum dos cidadãos resumir tudo numa
curta frase: João de Sá Coutinho, o Conde d'Aurora, foi em toda a sua dimensão
um verdadeiro SENHOR.
Daniel Campelo
Embaixador João de Sá Coutinho
37 Anos ao serviço da diplomacia portuguesa
Embaixador João de Sá Coutinho e Don Juan Carlos I, Rei de Espanha |
João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior,
4.º Conde d’Aurora, nasceu em 8 de Outubro de 1929, em Ponte de Lima.
Concluída a licenciatura em Direito, na
Universidade de Coimbra, ingressou na carreira diplomática em 29 de Junho de
1956, depois de aprovado no concurso de admissão aos lugares de adido de legação,
aberto pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros em Outubro de 1955.
De
acordo com as normas de progressão desta carreira, foi sucessivamente promovido
a:
- Cônsul de 3.ª Classe, em 20 de Novembro
de 1958;
- Cônsul de 2.ª Classe, em 23 de Março de
1960;
- Cônsul de 1.ª Classe, em 21 de Dezembro
de 1964;
- Conselheiro de Embaixada, em 11 de Setembro
de 1973;
- Ministro Plenipotenciário de 2.ª
Classe, em 7 de Dezembro de 1974;
- Ministro Plenipotenciário de 1.ª
Classe, em 18 de Fevereiro de 1976;
-
Embaixador, em 4 de Setembro de 1981.
Ao
longo da sua vida profissional, iniciada em 29 de Junho de 1956, começou por
desempenhar funções de adido de embaixada e de cônsul no Ministério dos Negócios
Estrangeiros, até 24 de Julho de 1960, tendo exercido posteriormente os
seguintes cargos:
- Cônsul em Belo Horizonte, Brasil, de 25
de Julho de 1960 a 13 de Maio de 1965;
- Secretário da Embaixada de Portugal em
Ottawa, Canadá, de 14 de Maio de 1965 a 30 de Abril de 1968;
- Secretário da Embaixada de Portugal em
Roma, Itália, de 1 de Maio de 1968 a 18 de Junho de 1972,
- Cônsul, no Ministério dos Negócios
Estrangeiros, de 19 de Junho de 1972 a 10 de Setembro de 1973;
- Conselheiro, no Ministério dos Negócios
Estrangeiros, de 11 de Setembro de 1973 a 25 de Outubro de 1973;
- Conselheiro da Embaixada de Portugal em
Londres, Grã-Bretanha, de 26 de Outubro de 1973 a 18 de Novembro de 1974;
- Embaixador de Portugal na Guiné-Bissau
(com credenciais de embaixador), de 19 de Novembro de 1974 a 26 de Fevereiro de
1977;
- Em acumulação com o cargo de Embaixador
na Guiné-Bissau, foi acreditado como embaixador não residente no Senegal, em 20
de Junho de 1975, em Cabo Verde, em 18 de Julho de 1975, na Mauritânia, em 27
de Janeiro de 1976, e na República Popular do Congo, em 1976.
- Embaixador de Portugal em Luanda, Angola
(com credenciais de embaixador), de 27 de Fevereiro de 1977 a 23 de Abril de
1980;
- Embaixador de Portugal em Madrid, Espanha
(com credenciais de embaixador), de 24 de Abril de 1980 a 7 de Março de 1984;
- Secretário-geral do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, de 8 de Março de 1984 a 8 de Abril de 1986;
- Embaixador, no Ministério dos Negócios
Estrangeiros, de 9 de Abril de 1986 a 12 de Maio de 1986;
- Embaixador de Portugal junto da Santa
Sé, de 13 de Maio de 1986 a 26 de Janeiro de 1993;
- Embaixador junto da Ordem Soberana e
Militar de Malta, desde 16 de Junho de 1986, em acumulação com o cargo de
Embaixador junto da Santa Sé.
-
Embaixador, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, de 27 de Janeiro de 1993 a
7 de Julho de 1993.
Depois de uma longa carreira de 37 anos
ao serviço da diplomacia portuguesa, em que desempenhou cargos de elevada responsabilidade
tanto a nível nacional como internacional, o Embaixador João de Sá Coutinho requereu
a passagem à aposentação, com 63 anos de idade.
Pelo Decreto do Presidente da República
n.º 19/2001, de 23 de Março, foi ainda nomeado, pelo então Presidente da
República Dr. Jorge Sampaio, Chanceler das Ordens Honoríficas Nacionais – Ordem
do Infante D. Henrique e Ordem da Liberdade.
Como
reconhecimento do mérito e das virtudes evidenciadas ao longo da sua carreira de
diplomata, o Embaixador João de Sá Coutinho foi agraciado com as seguintes
condecorações:
- Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo, de
Portugal;
- Grã-cruz da Ordem do Infante Dom
Henrique, de Portugal;
- Cavaleiro de Honra e Devoção da Ordem
Soberana e Militar de Malta;
- Grã-cruz da Ordem do Mérito, da
Áustria;
- Grã-cruz da Ordem Real de Dannebrog, da
Dinamarca;
- Grã-cruz da Ordem do Mérito Civil, da
Espanha;
- Grã-cruz da Ordem do Império Britânico,
da Grã-Bretanha;
- Grã-cruz da Ordem da Coroa de Carvalho,
do Luxemburgo;
- Grã-cruz da Ordem “pró Mérito
Militensi” da Ordem Soberana e Militar de Malta;
- Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul, do
Brasil;
- Oficial da Ordem do Mérito, da Itália;
- Grã-cruz da Ordem do Mérito, de
Portugal;
- Grã-cruz e Cavaleiro da Ordem de Piani,
da Santa Sé;
- Grã-cruz da Ordem de Pio IX;
- Grã-cruz da Ordem de São João de
Jerusalém e Rodes, de Malta;
-
Grã-cruz da Ordem de Leopoldo II, da Bélgica.
Faleceu em Ponte de Lima, na sua Casa de
Nossa Senhora d’Aurora, em 25 de Maio de 2012, com 82 anos de idade.
A título póstumo, foi ainda atribuída pelo
Município de Ponte de Lima ao Embaixador João de Sá Coutinho, 4.º Conde
d'Aurora, a Medalha de Mérito Social, entregue a sua filha Rosário de Sá
Coutinho em 4 de Março de 2014, Dia de Ponte de Lima.