EPITÁFIO
O que sei de mim
Já não me diz nada.
Vai chegar ao fim
O enfado da estrada.
Mais um passo só,
Logo a eternidade.
Feito cinza e pó,
Resto na saudade.
Dará pra acabar
Esta poesia?
Tardas-me a chegar,
Ó noite do dia!
E os versos finais
Podem ser, talvez:
Morreu entre os poetas imortais
O último poeta português.
7.5.2005
MOIMENTO
Puseram a bandeira a meia haste
E decretaram luto na cidade,
Responsos, coroas, círios – quanto baste
Para iludir a eternidade.
Teve o nome nas ruas, em moimentos:
“Nasceu – morreu – tantos de tal – Poeta”
Houve discursos graves, longos, lentos…
- Venham todos os ventos
Do planeta!
Rasguem bandeiras, sequem flores; no céu
Se percam orações, paters e glórias
(Tudo isso é dor que não lhe pertenceu!);
Destruam as estátuas e as memórias;
Que os discursos inúteis vão dispersos…
- A homenagem a um Poeta que morreu
É decorar-lhe os versos!
28 de Setembro de 1949