Fevereiro de 2012
Capa:
Imagem alusiva ao Museu do Brinquedo Português, em Ponte de Lima.
Fotografia de Amândio de Sousa Vieira
Conteúdos
Revista Limiana
Cinco anos ao serviço da Cultura
José Pereira Fernandes
Poema "Minha terra"
Rúben Brandão
Livro
Sarrabulho de Ponte de Lima: a Gastronomia da Tradição
Actividades da Casa do Concelho de Ponte de Lima
Festa da Concertina, Festa de Natal e Cantar dos Reis
Irene Vieira Rua
Município de Ponte de Lima entre os 8 municípios do país que abdicam do IRS
Página Literária
O Professor e Ensaísta José Cândido de Oliveira Martins
Cláudio Lima
Prof. José Maria Carneiro
Insigne pedagogo, poeta e crítico de arte luso-brasileiro
Mário Leitão
Três poemas de José Maria Carneiro:
Viagem Final, A saudade e Correlhã, Ponte de Lima
Museu do Brinquedo Português em Ponte de Lima
Sandra Rodrigues
Tempo de brincar
(A propósito do Museu do Brinquedo Português)
Pedro Strecht
Ponte de Lima - Referência de Turismo Cultural
Cristina Lima
Estado de Guerra
Manuel Aurora
Freguesias do Concelho de Ponte de Lima
Ribeira - Plena de história e património
João Carlos Gonçalves
Arte Sacra de Ponte de Lima
São Tiago - Século XVIII
Escultura de vulto em madeira dourada e policromada
José Velho Dantas
Turismo de Habitação
A Casa da Gaiba
Exposição
Fernando Pessoa: Plural como o Universo
Fundação Calouste Gulbenkian
Revista Limiana
Cinco anos ao serviço da Cultura
Com este número, a revista Limiana entra no sexto ano de edição,
ficando para trás cinco anos de publicação regular dedicados à divulgação da
cultura, sobretudo, da cultura limiana, promovendo o seu património natural,
histórico, cultural e artístico.
Tendo resultado da
concretização de um projecto ousado da Casa do Concelho de Ponte de Lima,
aquando da passagem do seu 20.º Aniversário, em Fevereiro 2007, a revista Limiana constituiu-se, desde o início,
como um projecto solidário, assegurado por um elevado número de colaboradores,
sem qualquer compensação material, que acreditam na Cultura como força
impulsionadora do desenvolvimento, mesmo quando tende a ser esquecida e relegada
para o plano das coisas menores, como acontece nos tempos catastróficos que
correm.
Sem esquecer a divulgação
das principais iniciativas e actividades da Casa do Concelho de Ponte de Lima, como
decorre do seu Estatuto Editorial, a Limiana
tem-se vindo a constituir como um verdadeiro repositório cultural, integrando
abundantes elementos bibliográficos de temática limiana, de que são exemplo,
entre muitos outros, os trabalhos divulgados no número de Dezembro de 2011
sobre Rúben Brandão, cidadão, poeta e pedagogo limiano que havia caído
injustamente no esquecimento, e o artigo da autoria do saudoso poeta António
Manuel Couto Viana, publicado na Limiana
n.º 13, de Junho de 2009, que nos revela a poetisa Mariana Júlia Vasconcelos, até
então ignorada pela esmagadora maioria dos pontelimenses.
Entre os conteúdos
regulares da revista destaca-se a divulgação e valorização dos principais
aspectos de natureza cultural, histórica, social e económica das freguesias do
Concelho de Ponte de Lima, com trabalhos já publicados sobre 21 das 51
freguesias, o espaço dedicado ao turismo, bem como o novo espaço recentemente aberto,
dedicado à divulgação do património religioso de Ponte de Lima, focando a
importância histórica, artística, iconográfica e devocional de algumas das suas
mais representativas peças de arte sacra, e prosseguido neste número com a
divulgação da escultura de São Tiago, da Igreja Paroquial de São João da
Ribeira.
Residindo na região da
Grande Lisboa a maioria dos associados da Casa do Concelho de Ponte de Lima, a
quem a revista é distribuída gratuitamente, tem havido igualmente a preocupação
de levar ao seu conhecimento os grandes eventos culturais realizados na
Capital, como é o caso da exposição “Fernando Pessoa: Plural como o Universo”,
patente ao público na Sede da Fundação Gulbenkian e que assinala o Ano do
Brasil em Portugal.
Para trás ficaram cinco
anos de um caminho que tem merecido o reconhecimento público e que importa
continuar a percorrer.
Porque, para além de um
olhar sobre o presente e o passado, é também importante perspectivar o futuro,
torna-se necessário encontrar quem possa continuar este trabalho, com renovado
empenho e dinamismo, assegurando a continuidade deste projecto inédito ao nível
do regionalismo português.
José Pereira Fernandes
Tempo de brincar
(A propósito do Museu do Brinquedo Português)
Há
portas que quando se abrem nos revelam um outro mundo. Ou, pelo menos, uma
forma diferente – tão antiga quanto renovada, tão bela quanto surpreendente -
de olharmos para o mesmo mundo: o nosso, o dos outros, o de agora, o de antes e
até o do futuro.
Há
portas que quando se abrem permitem o acesso a espaços do sonho e de sonho, a
espaços onde reina a fantasia, onde se escrevem e reescrevem histórias de Era
Uma Vez, onde podemos ver sorrisos nos olhos das crianças, memórias projectadas
como filmes rebobinados nos pensamentos dos adultos, onde o tempo (agora sempre
tão apressadamente rápido) parece que pára para todos.
E
ainda há portas que nos abrem caminhos para a imaginação, a criatividade, para
o desejo e para a força de se ser criança, da criança que pensa “O que hei-de
eu ser quando for crescido”, mas também portas que nos devolvem ao lugar do que
somos agora, do que já fomos antes, como se aos adultos fosse então justo
perguntar numa simplicidade desconcertante: “E tu, que querias ser se voltasses
a ser pequenino?”
As
portas deste Museu que agora abre são portas grandes, que sem barreiras ou
tapumes dão acesso ao espanto, à admiração, à alegria! São elas que agora
permitem aceder a salas e salas onde todos podem livremente percorrer as
brincadeiras preferidas das suas vidas e ouvir de novo (como sempre) as vozes,
os risos, a alegria, as correrias ou o silêncio de quem quer brincar só mais um
bocadinho…
Cuidado, este
carrinho veloz vai chegar à meta em primeiro lugar!
Dorme bem,
querida boneca do meu coração.
Agora tu,
agarra a espada, olha o inimigo ali atrás escondido, dispara rápido!
Batota,
batota, joga outra vez que assim não vale…
Ó mãe, ele
não me empresta o avião que voa de verdade…
Filha,
agora eu era a tua mãe e tu eras a minha filha, ouviste? Vou servir-te um
chazinho e tu portavas-te bem!
Calhou-te
cinco, avança três casas…
Este
Museu nasceu de um sonho. E de dar a quem o visita o espaço de entender a
importância do brincar. Todas as crianças saudáveis sabem como isso é
importante. Conhecem a palavra muito bem, soletram-na, agem-na sempre que
podem, muitas vezes ao dia, vários dias ao ano. Brincar é fundamental no
desenvolvimento infanto-juvenil: é espaço de ilusão que exprime o pensar e o
sentir de um menino ou de uma menina, mas também é espaço de construção de um
mundo emocional e cognitivo que está a crescer em constante adaptação a tudo
quanto o rodeia. Brincar molda vidas. Brincar exprime vida. Brincar salva
vidas!
Hoje,
nem sempre se brinca muito, nem provavelmente das formas mais saudáveis e
criativas. A televisão, a imagem, as novas tecnologias tomaram conta de forma
quase exclusiva de um certo espaço da vida psíquica dos mais novos. Os pais, as
famílias, as escolas, queixam-se da falta de tempo, da aparente apatia, da
desconcentração ou do desinteresse de crianças e adolescentes. Talvez haja um
fundo de razão em toda essa queixa, mas não podemos esquecer que as crianças
modelam-se. Elas são, em cada momento, fruto do que quem cuida delas lhes quis
ou pôde dar. E, do mesmo modo, não podemos esquecer que são os mais novos os
melhores detentores da força, do impulso, do desafio de cada tempo que se vive
no espaço presente. Qualquer investimento que se faça nesta área valerá sempre
a pena! E não tem preço, como assim o não tem a vida, o afecto ou o amor pelo
outro, sobretudo por aquele que para crescer saudável depende totalmente dos
outros.
Mas,
estou certo que este Museu não será só um espaço dedicado aos mais novos. Não
só porque da sua impressionante colecção fazem parte brinquedos que vão desde
os tempos actuais a outros muito antigos (que facilmente vão trazer à memória
belas recordações de outras crianças agora já pais, tios, avós ou bisavós), mas
também porque os adultos mais saudáveis transportam em si próprios, mesmo que
disso não dêem conta, uma enorme parte infantil. Sobre isso, João dos Santos,
um famoso médico pedopsiquiatra, escreveu um dia: “Se podes ser infantil, podes
ser Homem, podes ser Mestre”. Estou certo, repito, que este Museu reforçará
laços geracionais, aproximará vivências, fortificará raízes que darão, mais
tarde, novos ramos, Homens mais felizes, saudáveis e justos, Mestres mais
capazes de passar a riqueza das suas experiências a todos quantos ainda estão a
crescer!..
Abrem-se
então as portas deste Museu. O sonho torna-se realidade. Na vila mais antiga de
Portugal, beleza do Minho, exemplo de preservação do património e de vida
cultural profundamente enraizada nos usos e costumes das suas boas gentes, na
belíssima Casa do Arnado que olha com deslumbre as águas do Lima e a secular
ponte romana, nasce agora o Museu do Brinquedo Português.
Quando
há quatro anos atrás propus a ideia ao então Presidente da Câmara Eng.º Daniel
Campelo, pela mão sempre amiga e dedicada do Dr. Franclim Sousa, Vereador da
Cultura, ideia depois prontamente acarinhada pelo Eng.º Victor Mendes, actual
Presidente da C.M.P.L., não pensei que o sonho pudesse concretizar-se
imediatamente. Nem tão-pouco num tempo que foi célere, fruto do desejo da obra
ver abertas as suas portas de par em par, num projecto que ao ser absolutamente
único engrandece Ponte de Lima, o Minho e Portugal.
Por
isso, à C.M.P.L. desejo reforçar os meus sinceros parabéns, ao qual acrescento
apenas um agradecimento singular de quem fica particularmente feliz por ver um
espaço único que, ao ser genuinamente português, nos faz com certeza olhar para
todos a quem se dedica com uma esperança renovada agora e no futuro. Obrigado!
Pedro Strecht
Médico de Psiquiatria da Infância e Adolescência