quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Revista Limiana n.º 25


Dezembro de 2011
Capa:
Rúben Brandão - Cidadão, Poeta e Pedagogo Limiano


Conteúdos

Direito à educação
Irene Vieira Rua

Poema "A Criança e o Mar"
Rúben Brandão

A cultura do turismo religioso
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança

Cristãos Novos em Ponte de Lima
José Lima

Arte Sacra de Ponte de Lima
Santíssima Trindade - Escultura de vulto em madeira dourada e policromada
Século XVII-XVIII  - Museu dos Terceiros
José Velho Dantas

Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Ponte de Lima
nas Bodas de Diamante do Colégio Moderno, de Lisboa
Irene Vieira Rua

27.º Almoço Convívio de Limianos em Lisboa
José Pereira Fernandes

Poesia de Rúben Brandão
José Cândido de Oliveira Martins

Voo de Águia
Rúben Brandão

20 Pensamentos de Rúben Brandão

Carta ao Menino Jesus (Natal de 1994)
Rúben Brandão

Rúben Brandão (1947-2001) - Síntese biográfica
Mário Leitão

Rúben Brandão - Como se cimenta uma amizade
Rui Quintela

Rúben Brandão
Uma grande alma e um enorme coração
Franclim Castro Sousa

Memórias de um tio poeta...
Cristina Lima Gomes

Lirismo existencial e consciência épica
na poesia de António Manuel Couto Viana
Artur Anselmo

Armadas: a forma superior de fazer as coisas
José António Cunha

Freguesias do Concelho de Ponte de Lima
Brandara - Pequena em área, mas grande em valores

Município de Ponte de Lima requalifica margens do Rio Lima

Turismo de Habitação
Casa do Salgueirinho

Grandes nomes da pintura em exposição na
Fundação Calouste Gulbenkian


A cultura do turismo religioso

D. Januário Torgal Mendes Ferreira

A dinâmica e as perspectivas do turismo religioso merecem, mais que nunca, reflexão e prática de iniciativas, no respeito por tradições e hábitos e pela imaginação criadora desta área cultural.
As múltiplas expressões do turismo respeitam o sentido humanizador da fruição do lazer, em cujo âmbito se inscreve o exercício desta sua modalidade concreta. De forma habitual, a “experiência deambulatória” reporta-se a deslocações geográficas a sítios privilegiados onde catedrais, basílicas, santuários e mosteiros, capelas em alto monte ou no vale rasante, museus diocesanos… são fisionomias de um património único. As construções por motivo da crença religiosa tornaram-se também fontes pedagógicas da mesma fé. O “tesouro dos pobres” é um “livro aberto”, ao tornar compreensível pela escultura, pintura ou arquitectura, o que se manifesta ora insondável ora pertença de um escol. A arte cria comunidade e estabelece condições iguais do soletrar. O conhecer, contemplar e reflectir face a momentos sacros e seu património de toda a ordem é motivo de aprendizagem de conteúdos catequéticos, os quais se testemunham em ambiências históricas de mais largo recorte, sempre a considerar.
Monumentos como os da catedral de Braga, da igreja paroquial de Ponte de Lima, do mosteiro de Tibães ou de Rates concitam-nos a perscrutar o sentido artístico de uma mundividência cristã.
Uma visita à Catedral de Burgos ou à Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, aconselham e reclamam a compreensão dos seus motivos culturais enquanto espaços e traduções duma convicção.
Mas, cumprido este ditame, mercê de uma pedagogia simples e próxima, outros elementos históricos nos afrontam. O âmbito e o contexto geográfico, em que situam as manifestações das produções artísticas de cariz religioso, compõem-se de outras mais razões do saber, a serem, de igual modo, decifradas. A linhagem histórica é uma escritura do tempo, onde se entrechocam canções populares e lendas, dialectos ou simples linguagem(s) de todos ou de alguns dias, narrativas e histórias, todas estas linguagens portadoras de modos de pensar e sentir, simultaneamente fonte e ancoradouro de condições sociais, sendo o seu todo um dos sempre e consagrados capítulos de uma “história das mentalidades”. Esta circularidade de saberes é o caminho mais certeiro das nossas demandas e viagem. Talvez, pelo cerzir de pano tão complexo, é um pouco árduo os peregrinos dele se reclamarem. Por via disso, o turismo religioso exige razões de saber interdisciplinar, um olhar convergente sobre os variados estratos do terreno e uma transmissão própria que ajude “o ver” e o lobrigar de horizontes escondidos. O fascínio decorre desta visão, nunca dos pés cansados ou de noites apressadamente dormidas.
      Parece-me, pois, que neste capítulo versado, á semelhança de outros, deveríamos abrir a outras e parentescas dimensões a nossa “peregrinação interior” e exterior, cuidando de saber como vivem as comunidades humanas, nas suas privações e expectativas, nas suas aprendizagens normais, na recusa ou aceitação de superstições e preconceitos, no culto de fatalismos e de demais meandros invisíveis, no exercício de iniciativas inovadoras, na sensibilidade à cultura antropológica, zelosa pelo humano e pelo humanizador, no repúdio de desumanidades e de afrontas, enquanto restos de barbáries já sepultadas. Esta educação global do “olhar” transforma o turista num convivente e num inconformista transformador da civilização.
Uma visão artística, inspirada numa cultura de fé cristã ou de outras concepções religiosas ou simplesmente humanas, nunca poderá exilar-se de situações históricas, onde despertam criações artísticas de maior ou menor relevo. Passear não é distrair-se… do mais fundamental.
Plantar uma árvore, cuidar de um jardim, abrir uma escola, acompanhar idosos, defender crianças, institucionalizar o debate são e crítico… são vários “discursos” de uma só língua; sem nunca esquecer (não por uma questão de moda) o ambiente e a sua defesa e qualificação.
Darmo-nos conta deste pluralismo é praticar a fruição do “espectáculo” dum agregado humano, onde desembarcámos por motivo de aprendermos com Rembrandt ou algum pintor lusitano do século de ouro.
Desde o diálogo de culturas até ao encontro de pessoas, de todo este húmus se alimenta o turismo religioso. Neste, e noutros quadrantes, sempre me repugnou o assomar do dinheiro ao janelo da beleza de lugares e saberes. Agora que o metal desse quilate vai perdendo o vigor, com o consequente receio em despender em mau pano o que nos fará falta para nos cobrirmos, mais um motivo se soergue em ordem a não perdermos as razões de pensar e de viver.
      Nunca poderá enfraquecer “a capacidade de tornar acessível todo um mundo de saberes e experiências (culturais, espirituais, sociais, económicas, etc.) em que se cruzam o património artístico e histórico e o património natural (…). Arte, arquitectura, música e espiritualidade andam (…) a par da conservação da biodiversidade, do incremento da “massa crítica”, da integração e da inovação”. (J. António Falcão. Notícias de Beja, 20.X.2011, p. 6).      Ponte de Lima, nas suas virtualidades únicas, sempre foi exemplo para quem se quiser dedicar a ser andarilho de tais questões!  

D. Januário Torgal Mendes Ferreira


20 Pensamentos de Rúben Brandão

Rúben Brandão, Cidadão, Poeta e Pedagogo Limiano

·    Melhor que todos os presentes de Natal seria o Natal presente em todos. – 1970
·    A liberdade de dizer o que penso é irmã gémea da responsabilidade de pensar o que digo. – Maio/1982
·    Quem muito abusa da recusa acabará por ser recusado. – 1982
·    Olha em frente! Se olhares a vida de lado, começas a vê-la “andar para trás”. – 1984
·    Uma criança odiada gera um adulto adiado. – 1985
·    Quando não se pode ter o muito que se quer, deve-se querer muito ao pouco que se tem. – 1986
·    No campo da ciência há sempre uma interrogação que não morre; no campo do amor há sempre uma resposta que se renova. – 1988
·    Deves amar o saber para melhor saberes amar. – 1989
·    Educar para a comodidade é nunca educar para a comunidade. – 1990
·    Pelo Natal, descobrem-se dois tipos de homens: os que gostam de fazer de Pai Natal e aqueles que fazem de pai só pelo Natal… – Nov/1992
·    Que a Igreja anuncie a palavra do Senhor, mas que denuncie os senhores sem palavra. – 1993
·    Quando se faz demasiado silêncio sobre a história, tempo virá em que se terá de fazer a história do silêncio. – 1994
·    Por detrás de um filho fora de casa pode estar um pai fora de si. – 1995
·    Jovem é todo aquele que ao peso da idade que avança contrapõe a leveza de um sonho de criança. – 1996
·    É precisa toda uma vida para alguns serem alguém na ARTE, mas a todos é precisa muita arte para serem alguém na VIDA! – 1997
·    Amigo é aquele que na hora do meu pranto está pronto a sair do seu canto. – 1998
·    O verdadeiro professor pode não dar sempre a devida lição, mas tem que dar sempre uma lição de vida. – 1998
·    O professor afirma-se não pelo modo como manda calar mas pela forma como deixa falar. – 1998
·    Acabar por não julgar um crime é um crime que é preciso julgar. (S/ Crise da Justiça – 12000 casos de PRESCRIÇÕES de 1989 a 1999!) – Jan/2000
·    O médico procura um remédio para o mal; o poeta padece de uma procura sem remédio. – Abril/2000

Lápide tumular de Rúben Brandão, no Cemitério de Agramonte, Porto