Dezembro de 2011
Capa:
Rúben Brandão - Cidadão, Poeta e Pedagogo Limiano
Conteúdos
Direito à educação
Irene Vieira Rua
Poema "A Criança e o Mar"
Rúben Brandão
A cultura do turismo religioso
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança
Cristãos Novos em Ponte de Lima
José Lima
Arte Sacra de Ponte de Lima
Santíssima Trindade - Escultura de vulto em madeira dourada e policromada
Século XVII-XVIII - Museu dos Terceiros
José Velho Dantas
Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Ponte de Lima
nas Bodas de Diamante do Colégio Moderno, de Lisboa
Irene Vieira Rua
27.º Almoço Convívio de Limianos em Lisboa
José Pereira Fernandes
Poesia de Rúben Brandão
José Cândido de Oliveira Martins
Voo de Águia
Rúben Brandão
20 Pensamentos de Rúben Brandão
Carta ao Menino Jesus (Natal de 1994)
Rúben Brandão
Rúben Brandão (1947-2001) - Síntese biográfica
Mário Leitão
Rúben Brandão - Como se cimenta uma amizade
Rui Quintela
Rúben Brandão
Uma grande alma e um enorme coração
Franclim Castro Sousa
Memórias de um tio poeta...
Cristina Lima Gomes
Lirismo existencial e consciência épica
na poesia de António Manuel Couto Viana
Artur Anselmo
Armadas: a forma superior de fazer as coisas
José António Cunha
Freguesias do Concelho de Ponte de Lima
Brandara - Pequena em área, mas grande em valores
Município de Ponte de Lima requalifica margens do Rio Lima
Turismo de Habitação
Casa do Salgueirinho
Grandes nomes da pintura em exposição na
Fundação Calouste Gulbenkian
A cultura do turismo religioso
D. Januário Torgal Mendes Ferreira |
A dinâmica e as perspectivas do turismo
religioso merecem, mais que nunca, reflexão e prática de iniciativas, no
respeito por tradições e hábitos e pela imaginação criadora desta área cultural.
As múltiplas expressões do turismo
respeitam o sentido humanizador da fruição do lazer, em cujo âmbito se inscreve
o exercício desta sua modalidade concreta. De forma habitual, a “experiência
deambulatória” reporta-se a deslocações geográficas a sítios privilegiados onde
catedrais, basílicas, santuários e mosteiros, capelas em alto monte ou no vale
rasante, museus diocesanos… são fisionomias de um património único. As
construções por motivo da crença religiosa tornaram-se também fontes
pedagógicas da mesma fé. O “tesouro dos pobres” é um “livro aberto”, ao tornar
compreensível pela escultura, pintura ou arquitectura, o que se manifesta ora
insondável ora pertença de um escol. A arte cria comunidade e estabelece
condições iguais do soletrar. O conhecer, contemplar e reflectir face a
momentos sacros e seu património de toda a ordem é motivo de aprendizagem de
conteúdos catequéticos, os quais se testemunham em ambiências históricas de
mais largo recorte, sempre a considerar.
Monumentos como os da catedral de Braga,
da igreja paroquial de Ponte de Lima, do mosteiro de Tibães ou de Rates
concitam-nos a perscrutar o sentido artístico de uma mundividência cristã.
Uma visita à Catedral de Burgos ou à
Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, aconselham e reclamam a
compreensão dos seus motivos culturais enquanto espaços e traduções duma
convicção.
Mas, cumprido este ditame, mercê de uma
pedagogia simples e próxima, outros elementos históricos nos afrontam. O âmbito
e o contexto geográfico, em que situam as manifestações das produções
artísticas de cariz religioso, compõem-se de outras mais razões do saber, a
serem, de igual modo, decifradas. A linhagem histórica é uma escritura do tempo,
onde se entrechocam canções populares e lendas, dialectos ou simples linguagem(s)
de todos ou de alguns dias, narrativas e histórias, todas estas linguagens
portadoras de modos de pensar e sentir, simultaneamente fonte e ancoradouro de
condições sociais, sendo o seu todo um dos sempre e consagrados capítulos de
uma “história das mentalidades”. Esta circularidade de saberes é o caminho mais
certeiro das nossas demandas e viagem. Talvez, pelo cerzir de pano tão
complexo, é um pouco árduo os peregrinos dele se reclamarem. Por via disso, o
turismo religioso exige razões de saber interdisciplinar, um olhar convergente
sobre os variados estratos do terreno e uma transmissão própria que ajude “o
ver” e o lobrigar de horizontes escondidos. O fascínio decorre desta visão,
nunca dos pés cansados ou de noites apressadamente dormidas.
Parece-me,
pois, que neste capítulo versado, á semelhança de outros, deveríamos abrir a
outras e parentescas dimensões a nossa “peregrinação interior” e exterior,
cuidando de saber como vivem as comunidades humanas, nas suas privações e
expectativas, nas suas aprendizagens normais, na recusa ou aceitação de
superstições e preconceitos, no culto de fatalismos e de demais meandros
invisíveis, no exercício de iniciativas inovadoras, na sensibilidade à cultura
antropológica, zelosa pelo humano e pelo humanizador, no repúdio de
desumanidades e de afrontas, enquanto restos de barbáries já sepultadas. Esta
educação global do “olhar” transforma o turista num convivente e num inconformista
transformador da civilização.
Uma visão artística, inspirada numa
cultura de fé cristã ou de outras concepções religiosas ou simplesmente
humanas, nunca poderá exilar-se de situações históricas, onde despertam
criações artísticas de maior ou menor relevo. Passear não é distrair-se… do
mais fundamental.
Plantar uma árvore, cuidar de um jardim,
abrir uma escola, acompanhar idosos, defender crianças, institucionalizar o
debate são e crítico… são vários “discursos” de uma só língua; sem nunca
esquecer (não por uma questão de moda) o ambiente e a sua defesa e
qualificação.
Darmo-nos conta deste pluralismo é
praticar a fruição do “espectáculo” dum agregado humano, onde desembarcámos por
motivo de aprendermos com Rembrandt ou algum pintor lusitano do século de ouro.
Desde o diálogo de culturas até ao
encontro de pessoas, de todo este húmus se alimenta o turismo religioso. Neste,
e noutros quadrantes, sempre me repugnou o assomar do dinheiro ao janelo da
beleza de lugares e saberes. Agora que o metal desse quilate vai perdendo o
vigor, com o consequente receio em despender em mau pano o que nos fará falta
para nos cobrirmos, mais um motivo se soergue em ordem a não perdermos as
razões de pensar e de viver.
Nunca
poderá enfraquecer “a capacidade de tornar acessível todo um mundo de saberes e
experiências (culturais, espirituais, sociais, económicas, etc.) em que se
cruzam o património artístico e histórico e o património natural (…). Arte,
arquitectura, música e espiritualidade andam (…) a par da conservação da
biodiversidade, do incremento da “massa crítica”, da integração e da inovação”.
(J. António Falcão. Notícias de Beja, 20.X.2011, p. 6). Ponte de Lima, nas suas virtualidades
únicas, sempre foi exemplo para quem se quiser dedicar a ser andarilho de tais
questões!
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
20 Pensamentos de Rúben Brandão
Rúben Brandão, Cidadão, Poeta e Pedagogo Limiano |
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Melhor
que todos os presentes de Natal seria o Natal presente em todos. – 1970
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A
liberdade de dizer o que penso é irmã gémea da responsabilidade de pensar o que
digo. – Maio/1982
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Quem
muito abusa da recusa acabará por ser recusado. – 1982
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Olha
em frente! Se olhares a vida de lado, começas a vê-la “andar para trás”. – 1984
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Uma
criança odiada gera um adulto adiado. – 1985
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Quando
não se pode ter o muito que se quer, deve-se querer muito ao pouco que se tem.
– 1986
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No
campo da ciência há sempre uma interrogação que não morre; no campo do amor há
sempre uma resposta que se renova. – 1988
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Deves
amar o saber para melhor saberes amar. – 1989
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Educar
para a comodidade é nunca educar para a comunidade. – 1990
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Pelo
Natal, descobrem-se dois tipos de homens: os que gostam de fazer de Pai Natal e
aqueles que fazem de pai só pelo Natal… – Nov/1992
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Que
a Igreja anuncie a palavra do Senhor, mas que denuncie os senhores sem palavra.
– 1993
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Quando
se faz demasiado silêncio sobre a história, tempo virá em que se terá de fazer
a história do silêncio. – 1994
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Por
detrás de um filho fora de casa pode estar um pai fora de si. – 1995
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Jovem
é todo aquele que ao peso da idade que avança contrapõe a leveza de um sonho de
criança. – 1996
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É
precisa toda uma vida para alguns serem alguém na ARTE, mas a todos é precisa
muita arte para serem alguém na VIDA! – 1997
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Amigo
é aquele que na hora do meu pranto está pronto a sair do seu canto. – 1998
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O
verdadeiro professor pode não dar sempre a devida lição, mas tem que dar sempre
uma lição de vida. – 1998
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O
professor afirma-se não pelo modo como manda calar mas pela forma como deixa
falar. – 1998
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Acabar
por não julgar um crime é um crime que é preciso julgar. (S/ Crise da Justiça –
12000 casos de PRESCRIÇÕES de 1989 a 1999!) – Jan/2000
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O
médico procura um remédio para o mal; o poeta padece de uma procura sem
remédio. – Abril/2000Lápide tumular de Rúben Brandão, no Cemitério de Agramonte, Porto |